sábado, 19 de setembro de 2009

Fotografar araras em pleno voo torna-se teste para objetiva

Por Haroldo Castro (texto e fotos)
Eu tinha duas excelentes razões para visitar Bonito, no Mato Grosso do Sul. A primeira era não passar mais vergonha ao dizer que não conhecia o lugar. Quando perguntado, respondia que eu tinha visitado muitas vezes o Pantanal, mas mudava logo de assunto. Na verdade, pegava mal para o “viajante inveterado” não ter essa experiência em seu currículo. Ainda mais, Bonito é um dos 150 Pontos de Viajologia no Teste Brasil.

A segunda razão foi técnica. Eu precisava ir a um lugar onde poderia testar meu novo equipamento fotográfico e, principalmente, uma teleobjetiva 150-500 mm. Esse potente zoom, usado em uma câmera digital, tem a possibilidade de servir como uma lente de 750 mm. É um canhão que consegue captar detalhes, mesmo se o objeto fotografado está longe. Acompanhado de meus dois filhos Tamino e Mikael (ambos fotógrafos), a visita ao Buraco das Araras representou o melhor momento da viagem para testar o vigoroso zoom.


Durante o ano todo, residem no Buraco das Araras entre 30 a 50 casais de araras vermelhas. O lugar também é usado para namoro e reprodução.
Fotografar araras selvagens sempre é um desafio. Mas quando elas estão em movimento, o problema é maior. Para complicar, a distância – no caso do Buraco das Araras – faz com que a única lente viável seja a 500 mm. Mikael e Tamino, ambos como uma objetiva 200 mm – que já é uma boa pedida, em uma situação normal – captam as araras apenas como um pontinho azul e vermelho. Já no caso da teleobjetiva 500 mm, muitas vezes tenho três ou quatro pássaros preenchendo todo o espaço.
grupo de cinco aves voam em círculo dentro do Buraco das Araras. Tanto as aves como a pedra estão na sombra, o que me faz perder velocidade na câmera.
O treino é excelente. Primeiro, me acostumo com o peso da lente. Incluindo a câmera, minhas duas mãos precisam segurar, firme e forte – e sem tremer – quase três quilos. O sistema Optical Stabilizer (Estabilizador Ótico) da lente Sygma funciona relativamente bem e rápido. Por duas vezes, dá um creque, o sistema engasga e tenho de apagar a câmera. Mas tudo volta ao normal em seguida.
Seguir as araras em voo, fazer e manter o foco nelas e apertar o botão no momento exato é o ritual da tarde. Confesso que o resultado inicial é bem fraquinho. Mas atento ao movimento das aves, acabo me acostumando com o trajeto delas e também prevendo por as aves onde passam. E também quando vão pousar (foto).

Outro treinamento é conseguir diversificar a foto. Não há nada mais parecido do que duas araras do que outras duas araras voando! O que preciso modificar, então, é o fundo da imagem. As pedras vermelhas do buraco, iluminadas pelo sol, é uma boa opção. Outra, a copa verde das árvores, com a luz de fim de tarde (veja post anterior). O céu azul profundo, mesmo se bastante óbvio, dá um belo contraste.

Entretanto, o fundo mais interessante é o negro, criado pela rocha, na sombra. Se eu conseguir captar as araras e suas asas azuis cintilantes iluminadas, voando por esse fundo negro, esta será uma bela foto. Após entender o movimento das aves – elas precisam voar em círculo para entrar e sair da dolima – também percebo que tenho apenas um segundo para essa manobra. No início do voo, as araras estão iluminadas e as rochas também. Em seguida, as pedras entram na sombra, mas as araras continuam a receber luz direta. Esse é um momento de disparar. Um segundo depois, as araras penetram também na faixa de sombra. Tento todas opções. Muita coisa não dá certo, mas algumas imagens funcionam.
Durante apenas um instante, as araras (ainda) iluminadas pelo sol contrastam com as rochas do buraco, já na sombra.

Outro elemento interessante no teste é o ângulo de meu posicionamento. Tenho araras voando acima de mim (o que geralmente é o caso). Como sol está baixo, os corpos das aves também estão iluminados, o que rende alguns bons resultados. Também capto araras no mesmo plano de visão que o meu. Finalmente, porque estou no topo do buraco, fotografo muitas aves que voam abaixo de minha lente. A diferença de ângulo faz com que o animal ganhe cores diferentes. De baixo, a arara é toda vermelha. Já vistade cima, suas asas azuis sobressaem.

O céu azul contrasta com o vermelho do peito das araras, iluminado pelo sol de fim de tarde.

É uma tarde e tanto, com centenas de cliques e momentos de grande emoção. Um dos Top Five da viagem. No final, tiro duas conclusões. A primeira é que a lente 150-500mm da Sygma trabalha bem e o resultado é acima do esperado. A segunda é que as araras são aves maravilhosas! Obrigado, Modesto, por ter conservado esse lugar.

Haroldo Castro possui três paixões: contar estórias com fotos e crônicas, estar na natureza e viajar intensamente. Criou o conceito de Viajologia, que reconhece a viagem como uma escola dinâmica. Tem mais de 30 anos de experiência como fotógrafo, jornalista, diretor de documentários e estrategista de comunicação. Morou no Brasil, na França e nos Estados Unidos; trabalha em quatro idiomas e conhece mais de 140 países.

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