Essa é a primeira pergunta que faço a Clayton Castilho Gomes, diretor de Turismo da Prefeitura de Bonito. Com tantas possibilidades para dar errado – e os exemplos de massificação turística povoam a costa brasileira – quero entender melhor quais foram os elementos chaves que fizeram de Bonito a capital nacional do turismo ecológico.
“Depois que o Chico José fez um Globo Repórter sobre Bonito, nós sabíamos que o lugar iria encher de gente. Foi preciso muita conserva entre os fazendeiros, as agências de turismo, os hotéis e a prefeitura para coordenar as atividades”, afirma Clayton. “Todos chegaram à conclusão que o mais importante era trabalhar em conjunto, sem deixar espaço para a ilegalidade. E assim foi criado um sistema de voucher único”, diz.
A Gruta do Lago Azul é o cartão postal de Bonito. Só entra no imenso buraco para descobrir o lago quem tiver o voucher único. Apenas 305 visitantes diários podem ter esse privilégio.
Uma das primeiras preocupações foi a sustentabilidade. Como fazer para que os visitantes pudessem conhecer lugares maravilhosos e, ao mesmo tempo, impedir que um número acima da capacidade detonasse esse paraíso? Para resolver o dilema, cada passeio – são, ao todo, 38 – passou por um estudo de impacto ambiental e um número máximo de visitantes diários foi estipulado.
Todas as atividades na região de Bonito (que compreende o município vizinho de Jardim, MS) encontram-se dentro de fazendas de gado, propriedades privadas. Se cada dono de fazenda resolvesse receber visitantes por sua própria conta, o processo iria virar uma grande bagunça. Foi preciso também criar um esquema de reservas para evitar que o visitante, depois de percorrer 20 ou 30 km de chão, chegasse ao destino e tivesse a má notícia de que não haveria mais espaço naquele dia.
Clayton explica que as reservas são centralizadas pelas agências de turismo. Graças a uma comunicação constante com as fazendas, todas as operadoras sabem quais são os horários disponíveis para os passeios. Uma vez escolhida a atividade, o voucher é emitido em cinco vias, três ficam na agência e duas são para o guia e para o passeio. “O voucher é tão respeitado no município que virou moeda corrente. Vale dinheiro vivo”, diz Clayton.
Nosso papo com Clayton leva horas. Meu filho Mikael, antropólogo especialista em ecoturismo, pergunta sobre a estratégia conservacionista do município. “Conseguimos nossa boa reputação graças às águas cristalinas. Precisamos mantê-las sem impacto. Nosso maior foco é zelar pelas matas ciliares, aquelas que protegem os barrancos dos rios”, afirma o Diretor de Turismo. “Nosso ganha-pão é a pureza da água.”
É a água pura e cristalina que deu fama a Bonito. Em uma das nascentes do rio Sucuri, na Fazenda Sucuri, água e natureza encantam os olhos dos visitantes.
Em 2008, 170 mil pessoas participaram das atividades, quase todas relacionadas com a água límpida de Bonito e Jardim. Nesse ano, de janeiro a agosto, essa marca já chegou a 165 mil. O número de visitantes pode até crescer, mas a prioridade é manter a região em seu estado prístino. Um belo desafio!
Por Haroldo Castro
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