sábado, 31 de outubro de 2009

Terra da Gente Adventure IV em Bonito/MS

Texto: Dirceu Martins

As aventuras dos 4 escolhidos na promoção Terra da Gente Adventure IV em Bonito, no Mato Gosso do Sul, estão no programa deste sábado (31/10).


De carona com os aventureiros, o telespectador, sem sair de casa vive os desafios e as emoções dos quatro felizardos num dos locais mais bonitos e de mais alta biodiversidade do Brasil. Foi uma semana de mergulho na natureza e emoções sem fim para o engenheiro Izaias Miranda Jr., de São José dos Campos, SP; a sitiante Maria Zilda de Oliveira, de Leme, SP; a técnica ambiental Jane Cavalcante Rodrigues, de São Luis, MA, e o advogado Messias de Oliveira, de Ribeirão Preto, SP. Todos encararam todos os desafios: flutuação no rio Formoso em rios de água cristalina no meio dos cardumes, boiacross em corredeiras e cachoeiras, trilhas pela mata, rapel num precipício a 90 metros, visitação à Gruta do Lago Azul, observação de aves e um aula para se livrar do preconceito e do medo de cobra.


Foi uma experiência que mexeu com a vida dos quatro aventureiros. Izaías, um observador e criador de aves, realizou o sonho de ver ao vivo - e em muitas cores - o que só tinha visto em livros e pela televisão, como a ave-símbolo de Bonito, o udu-de-coroa-azul. Messias, pescador acostumado aos grandes bagres, se emocionou ao nadar lado a lago com os grandes dourados. Jane vai levar para a terra dela a experiência de fazer do turismo sustentável uma fonte de emprego e renda. Zilda, de 61 anos, diz, em lágrimas, que depois dessa experiência morreria feliz, mas quer viver muito para ajudar a natureza que tanto ama. Quem acompanhou as emocionantes aventuras dos escolhidos do Terra da Gente Adventure IV em Bonito foram os repórteres Alexandre Sá (imagens) e Dirceu Martins (texto).

Os aventureiros

Bichos! A vida solta e à vontade. A geografia em degraus marcando a grandiosidade da terra. Árvores, o respiro verde da floresta, e rios, numa mágica transparência. Aqui brotam nascentes e cardumes que se mostram com elegância.

Como você aproveitaria a chance de estar perto de tudo isso? É hora de abrir os olhos, afiar os ouvidos, puxar o fôlego e mergulhar nas maravilhas das águas transparentes de Bonito, no Mato Grosso do Sul. Um lugar onde é simples encontrar o que a natureza tem de mais bonito.

Aqui, quatro histórias serão contadas. Quatro candidatos escolhidos que, à sua maneira, apresentaram uma vontade especial para fazer parte desta expedição. A missão deles, transformar o Terra da Gente em Adventure.

Nossa viagem começa no aeroporto de Campinas, interior de São Paulo. No primeiro trecho, vamos de avião até Campo Grande, Capital de Mato Grosso do Sul. Depois, a expedição segue por mais 300 quilômetros pelas estradas no rumo Sudoeste.

Bonito fica a Leste da Serra da Bodoquena, a poucos quilômetros do complexo do Pantanal. O município é o centro de uma região que tem o ecoturimo como sua maior riqueza. Durante uma semana, este é o cenário de aventuras e ensinamentos para os nossos quatro convidados.


Izaías Miranda Júnior, de São José dos Campos, é engenheiro. Projeta carros e adora as criaturas que voam. "Adoro pássaros, adoro a natureza, uma das maiores expectativas minhas é ver o pássaro que o Terra da Gente mostrou, a ave símbolo de Bonito, o udu-de-coroa-azul, só encontrado aqui nessa região".

Jane Cavalcante Rodrigues, de São Luís, é técnica ambiental e ajuda a punir os crimes contra a natureza, no Maranhão. "Trabalho na Secretaria do Meio Ambiente do Maranhão, com lugares que já foram degradados. Aqui, tenho a possibilidade de ver projetos sustentáveis e exploração dos recursos com preservação".

Maria Zilda Oliveira, de 62 anos, tem um sítio no interior de São Paulo, em Leme, e um coração que transborda emoção. "Na natureza, eu viro criança, a natureza nos ensina, é vida, e eu quero viver mais e mais".

Messias Faleiros Oliveira, de Ribeirão Preto, é advogado, mas gosta mesmo é de peixe na ponta do anzol. "Gosto dos grandes bagres do Xingu, Araguaia e Rio Grande. Nesta viagem quero ver o peixe sob outra perspectiva, não como troféu, mas como elemento da natureza".

Nas profundezas

Logo vamos ao equipamento de mergulho. Quem vem a Bonito é para se molhar. Nosso primeiro passeio é no rio Formoso. Para entrar no clima, 1.800 metros de floresta e a visão do paraíso. Mas a beleza exige esforço e dedicação: dos quatro, só Izaías tem experiência em mergulho. Para os outros, tudo é novidade. É difícil respirar pelo "caninho" pela primeira vez, como diz dona Zilda. Mas com a ajuda de quem sabe, começa a flutuação.

É uma mistura de sensações. O que se vê são peixes, mas quem desce, carregado pela corrente, parece voar sobre os cardumes. E os comentários são unânimes: "sensacional", "fantástico", "maravilhoso", são apenas algumas palavras perto da emoção que cada um sentiu. A flutuação é a atividade mais procurada por quem visita Bonito.

Seguimos para mais uma entrada, no rio Sucuri. O pessoal da fazenda diz que o Sucuri tem a água mais cristalina do Brasil. Esta qualificação viria de relatos de mergulhadores profissionais. O motivo seria a formação de calcário. A concentração é muito alta e o calcário, que é um minério pesado, garante uma boa visibilidade da água. O rio não tem cachoeira, nem corredeira, é tranquilo, mas cheio de curvas, daí o nome Sucuri.

Clareza total

O guia da fazenda explica porque aqui a conservação funciona: "As duas margens do rio são da fazenda, que é da mesma família há 100 anos. Ninguém mexe, a prioridade aqui é preservar". O cuidado é de quem sabe onde pisa: a trilha sobe por uma passarela de madeira para que ninguém toque o chão.

O motivo é dos melhores: chegamos a um santuário, um ponto sagrado da floresta, o Recanto das Nascentes! Nascentes, no plural, porque são muitas. O guia arrisca dizer que existem mais ou menos dez. O lugar é um raro e feliz encontro de beldades: a água, o solo de calcário e a vegetação. O quarto elemento deste enredo faz parte do sonho de um de nossos aventureiros. O sonho de Messias é nadar ao lado de um dourado.

A clareza é total. Portanto nem faz sentido contar a visibilidade em metros. Aqui se enxerga tudo o que passa a frente dos olhos. E olha que não é pouco. Os cardumes de piraputangas são os mais numerosos. Com o passar do tempo, o desfile vai se tornando mais variado. Corimbas, piaus e outras espécies parecem nos acompanhar no trajeto.

Os troncos atravessados mostram o destino de antigas árvores da mata ciliar. No fundo, jardins. Algas e plantas aquáticas estendem um tapete verde para as celebridades do rio. Um dos motivos da riqueza aquática de Bonito é a altitude baixa. A região está a 300 metros acima do nível do mar.

A Gruta do Lago Azul

No caminho das águas, a geografia cria belezas na terra. Para chegarmos a uma delas, trocamos o snorkel pelos capacetes. Estamos nos dirigindo para a Gruta do Lago Azul. O guia Cícero Thomaz conta-nos a história de depredação do local: "A descoberta da Gruta do Lago Azul se deu por volta de 1940. Foi um fazendeiro aqui da região, que, por não ter tanta consciência ecológica, acabava trazendo visitantes pra fazer churrasco dentro da gruta, tomar banho no lago", conta. Hoje em dia, toda a área é protegida. Desde que a gruta foi reconhecida como patrimônio natural da União, as visitas foram limitadas e monitoradas.

Na abertura, de 220 metros de largura, a caverna mostra os dentes: estalactites, penduradas no teto, e estalagmites, acúmulos de calcário gotejado por milhares de anos. A vela torna o ambiente mais solene. Descemos com o respeito de quem entra numa catedral. A cavidade ainda entra mais 40 metros para baixo d'água.

Em 1992, mergulhadores franceses e brasileiros encontraram aqui fósseis de mamíferos: um tigre-dente-de-sabre e uma preguiça-gigante, datada próxima à Era do Gelo. Os restos permanecem até hoje onde foram avistados. Um tesouro envolto em mistérios.

Mais perto da aves

A caravana levanta poeira para que Izaías não perca o voo. Não o do avião, mas de asas muito mais ágeis e bonitas: Izaías é apaixonado por aves. Ele, que enxerga longe, sempre que pode está com o binóculo à frente dos olhos, vibrando sempre que avista um pássaro pela primeira vez.

Os guaxos pulam de galho em galho e encorajam a curiosidade de outros pássaros. Chegam o sabiá-laranjeira e o corrupião também. Conhecido aqui como joão-pinto, o corrupião chama a atenção de longe, com o contraste de laranja e preto.

A arara-vermelha tomando conta do ninho torna-se um momento mágico. "Estou até tremendo. Que presente! Vou me emocionar muito", comenta Izaías. Mal sabia ele que na sede da fazenda, seu Moacir tinha outras.

No braço dele, a arara-azul é mansa de se desconfiar. Fica parada, tranquila. Questiono se as asas eram cortadas. "Não, olha aqui, está inteirinha, da pra ver. Eu agrado mesmo, tem que dar carinho senão ela não volta". O carinho alimentou uma bela amizade. É uma manha só. O ecoturismo mudou a vida de seu Moacir. Há 20 anos, ele trocou a pecuária pelos animais silvestres.

Izaías se esbalda, segurando a arara-azul. E não só ele. Todos aproveitam o contato. Dona Zilda vem dar o tom do momento ao comentar sobre a arara-azul: "Vive na mata e vem matar saudade. É linda! Tem liberdade e carinho, que Deus abençoe!".

Salto na cachoeira

No caminho das emas, a trilha leva para uma mata que cresceu numa antiga área de pasto. Um ótimo exemplo de recuperação da natureza, com o dedo de seu Moacir. "O antigo morador plantava cana, não tinha essa mata. Eu que formei. Essas árvores aqui têm 17 anos", conta. O replantio de árvores beneficia a todos, revigorando, por exemplo, o rio do Peixe, que tem novamente sua mata ciliar.

Na Cachoeira do Elefante, um casal de saí-andorinha se deixa fotografar. Os dois fazem pose para as câmeras. Sabem que não precisam ter medo porque conhecem o caminho e a limitação dos homens.

Caminhando pela trilha, passamos quatro pontes e algumas travessias até chegarmos no Poço do Arco-íris. Aqui, podemos saltar para a água límpida. Seu Moacir vai à frente e os outros seguem o mestre. Para Jane e Izilda, uma prova de coragem.

Quem tem medo de cobra?

O sol se põe, mas o dia de contatos imediatos com os bichos não acabou. À noite, hora de ver quem gosta mesmo da natureza. No Projeto Jibóia, Henrique Naufal, o "homem da cobra", pergunta com uma em torno do pescoço: "Quem tem medo de cobra?". Todos garantem que não vão tocar na serpente.

Se a maioria torce o nariz, Jane é um caso extremo, pois ela tem pavor de cobras. Está aqui contra a vontade, para se superar. As explicações de que as serpentes não atacam ninguém e são importantes para o equilíbrio ecológico ajudam. Afinal, a fama das serpentes é injusta, é uma questão de cultura. O fato é que a estratégia de Henrique dá certo e, um a um, os convidados vão se aproximando, muito mais do que achavam possível. O conhecimento vence o preconceito! Até Jane acaba com a cobra no pesçoco, mesmo com o rosto contraído.

Aventura no bóia-cross

Entre a beleza e a contemplação, a aventura. Vamos enfrentar o bóia-cross. Os guias passam as instruções. No passeio de solavancos, só se usa a roupa do corpo. Problema para Dona Zilda, que não quer abrir mão dos óculos. O jeito é improvisar, amarrando os óculos com barbante.

A brincadeira é no rio Formoso. São seis quedas e três cachoeiras. Não tem perigo nenhum. Para quem não sabe nadar, os guias estão lá para ajudar.

Começa a aventura. No galope do rio Formoso, o bóia-cross é pura curtição, com momento de descontração e show de tombos. Nas cachoeiras, nossos aventureiros mostram destreza, ou tentam, pois os tombos são inevitáveis. Não demora muito e eles esquecem que são adultos.

Na ponta da corda

Quando a cavidade entre as montanhas aumenta, o rio quase desaparece e a paisagem se agiganta. O Terra da Gente Adventure chega ao Vale do Salobra.

A trilha é suave até chegar na ponte. Não é bem uma ponte porque ela termina no meio do caminho. Só serve para levar nossos exploradores para o meio do vale, a 90 metros do chão. Se eles tivessem asas, não teriam problemas. Mas como nossos aventureiros não sabem voar, vão ter que pendurar a vida numa corda. O chão desaparece embaixo dos pés. O coração bate mais forte. Agora, para seguir na trilha, eles vão ter que descer o paredão do vale no rapel.

De cima, eles tem a chance de avaliar melhor o tamanho do desafio. Izaías já trabalhou com rapel e, por incrível que pareça, está inseguro. "Estou querendo ir, mas ainda estou com medo. Vamos tentar".

Belezas verticais

Messias é o voluntário para ir na frente e vai tranquilo. Quando completa a descida, faz questão de, pelo rádio, incentivar os outros. "Fantástico, visual maravilhoso, super seguro". Uma vista inesquecível que todos aproveitam, até Izaías. O paredão de calcário, os jardins suspensos de bromélias vão passando conforme as cordas vão deslizando, ao gosto do vento. Prazer que só os aventureiros "puro sangue" conhecem.

A comemoração é do tamanho do prodígio. O rapel termina na Cachoeira Boca da Onça, a mais alta do Mato Grosso do Sul, com 156 metros. Se o lugar merece o nome de Bonito, a água é dona da maior parte do mérito. E as cachoeiras são um encanto frequente. Mas um dos nossos aventureiros ainda espera pela vez. Messias, nosso pescador que decidiu ver os peixes por outro ângulo, não desistiu do sonho: quer nadar junto com um dourado.

Quando sorte é tudo

No último dia da expedição, seguimos para o lugar com a melhor possibilidade desse encontro. Vamos para o município de Jardim, até a nascente do córrego Olho d'Água. Ellys Kosloski, nosso guia, nos mostra como pode ser nosso aproveitamento. "A gente tem chance de 1% de ver sucuri e jacaré. Mas com o dourado a ocorrência é bem maior". Ambiciosos, vamos atrás desse 1%.

Nosso último mergulho em busca de imagens sensacionais começa num áquario natural e, como num passe de mágica, entramos de novo no reino das águas claras.

As piraputangas pintam o rio com riscos vermelhos. Parecem até ter luz própria. É um reino bem povoado e, quando menos se esperava, um morador de fama terrível. Izaías, com uma câmera fotográfica, flagra a chegada de uma sucuri. Para ele, que tem sorte e dedicação, 1% foi suficiente.

É uma sucuri adulta, com mais de três metros. Parece assustadora, mas, de novo, a fama não se justifica. Nossa amiga só quer passear e procurar comida, exatamente como todos os outros súditos do mesmo reino.

Até que o próprio rei aparece e logo demonstra sua majestade. De repente, agitação no fundo do rio. É uma cobra sendo atacada por um cardume de piraputangas. Em poucos segundos, tudo volta à calma de sempre. Assim é a natureza. O córrego do Olho D'Água tem 1.500 metros até desaguar no rio da Prata.

Sonhos realizados

São 90 minutos de espetáculo. Sem medo de serem incomodados, os corimbas se deixam admirar. Piaus, para mais de palmo. Um lugar que torna os sonhos realidade. Inclusive o de nosso pescador, convertido em aventureiro das águas. No meio das corredeiras, Messiase consegue uma audiência com a majestade. Messias se aproxima do rei e consegue nadar com os dourados.

Um encontro em condições de igualdade: o peixe solto e o homem em estado de graça. O córrego está cheio deles. É um santuário de dourados. "Não foi um dourado, foram vários dourados gigantescos. Olha, não dá para acreditar!", comenta Messias, eufórico.

Dentro e fora d'água, os bichos foram generosos com a expedição. Um lugar pra se conservar vivo na memória e no coração do Mato Grosso do Sul.

Conhecer para preservar. Descobrir que a vida faz a diferença entre um buraco e um santuário de araras-vermelhas, pode ser um choque. Entender que o homem faz parte desta mágica é sempre emocionante!

Dona Zilda compreende e passa-nos com emoção: "Sei lá, uma coisa tão boa de sentir. Não tem palavras. Se eu morrer hoje, já vou feliz. Quanta coisa linda!".

Agradecimentos

ATRATUR (Assoc. Atrativos Turísticos de Bonito e Região)
AGTB (Assoc. de Guias de Turismo de Bonito)
Secretaria de Turismo de Bonito
TRIP Linhas Aéreas
AZUL Linhas Aéreas


Fotos: Willy Ertel

Como chegar:

Uma das opções de hospedagem em Bonito, no Mato Grosso do Sul, é o Hotel Piramiúna. Tel. (67) 3255-1058
www.piramiunahotel.com.br

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